
A seriedade, a ética e a competência dum criador não se definem tanto nas situações normais e nos bons momentos (como as excelentes classificações nas exposições ou simplesmente o quotidiano saudável e harmonioso dum cão por si criado) como na adversidade. A forma de lidar com uma má notícia, por exemplo, de que um exemplar que se criou se tornou agressivo e potencialmente perigoso para os vizinhos ou até para os seus donos, ou desenvolveu displasia da anca ou outra doença degenerativa hereditária que compromete seriamente a sua qualidade de vida, ou simplesmente não atingiu a qualidade que dele era esperada (sobretudo no caso de cães de exposição e criação), definem a argamassa do criador. Um sólido e consistente projecto de criação tem forçosamente de passar por uma rigorosa selecção de reprodutores, que deverá ter em conta todos os parâmetros (morfologia e tipicidade, temperamento, saúde) e incluir necessariamente o despiste de doenças hereditárias, a interpretação dos seus resultados e incorporação desses dados no planeamento dos acasalamentos, mas também a selecção dos clientes, para evitar que pessoas sem condições adequadas adquiram cachorros, os quais poderão, um dia, por esse motivo, vir a estar no centro de problemas e ser facilmente descartáveis.
Sendo evidentemente impossível garantir que um cachorro não irá nunca desenvolver uma qualquer patologia de origem genética, o criador consciencioso deve todavia fazer tudo ao seu alcance para evitar que tal aconteça – mas, se acontecer mesmo, ele não deverá negar-se a auxiliar, a aconselhar, a prestar toda a ajuda possível, e não deve enjeitar responsabilidades alegando peremptoriamente que o problema é ambiental e foi adquirido. Criar e adquirir um animal implica um risco, porque a genética contém uma grande parcela de imprevisibilidade. Tanto o criador como o comprador deverão estar cientes desse risco, do eventual surgimento de um problema que não deverá ser imputável ao primeiro se não tiver existido incúria da sua parte. Apesar disso, na minha prática como criadora sempre adoptei a norma de dar uma garantia: caso o cachorro viesse a desenvolver um problema hereditário que o impedisse de ter uma vida normal e funcional, eu ofereceria um outro como forma de compensação. Nada me obrigava a fazê-lo, mas sempre achei que devia. Aconteceu duas vezes. E em muitas outras ocasiões, desde sempre, tenho ajudado, aconselhado, quase sempre relativamente a problemas não genéticos. Porque o cordão umbilical nunca é totalmente cortado. Os cachorros que nasceram às minhas mãos não deixarão nunca de fazer parte da minha grande família canina. Não são objectos. Se sofrem ou se encontram em risco, é minha obrigação e missão tudo fazer para ajudá-los. E os seus humanos sabem disso. Essa é uma das principais razões que levam os meus clientes a escolher-me, em vez de a outros. Porque sabem que, se por grande infortúnio o seu Ponta da Pinta vier um dia a sofrer de displasia da anca ou de cardiomiopatia dilatada ou de sarna demodécica ou qualquer outra condição genética ou hereditária, a minha porta não se lhes fechará na cara.

The seriousness, ethics and competence of a breeder are not defined as much in normal situations and good times (such as excellent ratings in conformation shows or simply the healthy and harmonious daily life of a dog of their breeding) as in adversity. The way of handling bad news, for example, that a dog bred by them has become aggressive and potentially dangerous to its neighbors or even its owners, or has developed hip dysplasia or other hereditary degenerative disease that seriously compromises its quality of life, or simply did not reach the expected quality (especially in the case of show and breeding dogs), define the breeder's essence. A solid and consistent breeding project necessarily has to go through a rigorous selection of the breeding stock, a practice that must take into account all parameters (morphology and type, temperament, health) and necessarily include screening for hereditary diseases, interpretation of its results and incorporating this data into mating planning, but also selecting puppy buyers to prevent unfit people from purchasing dogs, which may one day become the center of trouble and easily disposable.
While it is obviously impossible to guarantee that a dog will never develop any pathology of genetic origin, the conscientious breeder must nevertheless do everything in their power to prevent that from happening - but if it does, they should not refuse to help, advise, to provide all possible assistance, and should not shirk responsibility by claiming outright that the problem is environmental and has been acquired. Breeding and acquiring an animal carries a risk, because genetics contain a great deal of unpredictability. Both the breeder and the buyer should be aware of this risk, of the possible emergence of a problem that should not be attributable to the former if there has been no negligence on their part. Nevertheless, in my practice as a breeder I have always adopted the norm of giving a guarantee: if the dog were to develop a hereditary problem that would prevent them from having a normal and functional life, I would offer another as compensation. It was not mandatory to do so but I always thought I should. It happened twice. And on many other occasions, I have always helped, advised, almost always on non-genetic problems. Because the umbilical cord is never fully cut. The dogs born at my hands will never cease to be part of my large canine family. They are not objects. If they suffer or are at risk, it is my obligation and mission to do everything to help them. And their humans know that. That is one of the main reasons why my puppy buyers choose me over others. Because they know that if, unfortunately, their Ponta da Pinta is ever to suffer from hip dysplasia or dilated cardiomyopathy or demodectic mange or any other genetic or hereditary condition, my door will not close in your face.

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