Viver em matilha | Living in a pack | Vivre en meute
- Manuela Paraíso
- 1 de ago.
- 5 min de leitura
Atualizado: 2 de ago.

Os meus cães vivem em liberdade. Todos. As pessoas que nos visitam ficam espantadas: como é possível 21 Cães da Serra da Estrela adultos viverem juntos, em matilha, sem que haja lutas constantes? Demorei anos anos até encontrar a forma para a coexistência pacífica: estarem quase sempre todos juntos. Os canis são usados para controlo dos cios, para quarentena - e como dormitório, à noite, para que alguns dos cães, os que têm mais tendência para causar problemas, percebam que há limites que devem respeitar. Durante o dia, entre o período das refeições, juntam-se ao resto do grupo, integrando-o sem problemas de maior. Por vezes, ocorre uma pequena escaramuça, que, regra geral, para á minha ordem. Todos os incidentes graves que tive, lutas com alguma ferocidade, ocorreram sempre envolvendo cães que viviam presos no canil durante a maior parte do dia. Essa prisão gera stress, irritabilidade e intolerância para com os cães que estão em liberdade, muitos dos quais adquirem o hábito de ir provocar os que estão confinados. A partir do momento em que passaram a conviver todos, as quezílias tornaram-se raras: os cães, animais potencialmente gregários, se habituados a viver em matilha adquirem a consciência de grupo, organizam-se dentro dele. Essa consciência evita que ataquem outros membros da matilha. Até mesmo os machos perante fêmeas em cio. Há vários anos, ao visitar pastores que tinham, a guardar os seus rebanhos, machos e fêmeas, estranhava que, nos cios destas, não houvesse entre aqueles mais do que pequenas escaramuças, as quais originavam pequenas feridas, pouco profundas. Desde então, implantei a mesma gestão - e o pior cenário que ocorre são ocasionais rosnadelas inconsequentes. Poderão ripostar que tal não funciona se os machos forem todos muito dominantes - mas a experiência mostrou-me que a dominância não é algo permanente e absoluto e que é muito condicionada - ou exacerbada - pela forma como lidamos com ela. Gritos, stress, fortes correctivos físicos, não são solução e só tendem a agravar as coisas, ao tornar os cães também eles mais stressados e frustrados. Cães que vivem num ambiente e em condições de equilíbrio e harmonia são muito mais felizes e, consequentemente, muito menos propensos a agredir os outros.
My dogs live in freedom. All of them. People who visit us are amazed: how is it possible for 21 adult Estrela Mountain Dogs to live together, in a pack, without constant fighting? It took me years to find a way for them to coexist peacefully: they're all together most of the time. The kennels are used to control the heat seasons, for quarantine - and as sleeping quarters at night, so that some of the dogs, those most likely to cause problems, realize there are boundaries they must respect. During the day, between mealtimes, they join the rest of the group, integrating it without any major issues. Occasionally, a small skirmish occurs, which, as a rule, stops at my command. All the serious incidents I've had, fights of some ferocity, have always involved dogs that were kenneled for most of the day. This confinement generates stress, irritability and intolerance toward the dogs who are free, many of which acquire the habit of provoking those confined. From the moment they all began to live together, fights became rare: dogs, potentially gregarious animals, if accustomed to living in packs acquire group awareness and organize themselves within it. This awareness prevents them from attacking other pack members, even males in the presence of females in heat. Several years ago, when visiting shepherds who had males and females guarding their flocks, I found it strange that, during the bitches' heats, there were only minor skirmishes between them, resulting in small, shallow wounds. Since then, I've implemented the same management approach - and the worst-case scenario is occasional inconsequential growls. You might argue that this doesn't work if the males are all very dominant - but experience has shown me that dominance isn't permanent and absolute and that it's largely conditioned - or exacerbated - by how we handle it. Yelling, stress and strong physical punishment are not solutions and only tend to make matters worse, leaving dogs more stressed and frustrated. Dogs living in a balanced and harmonious environment are much happier and, consequently, much less likely to attack others.
Mes chiens vivent en liberté. Tous. Ceux qui nous rendent visite sont stupéfaits: comment est-il possible que 21 Chiens de la Serra da Estrela adultes puissent vivre ensemble, en meute, sans se battre constamment? Il m’a fallu des années pour trouver un moyen de les faire cohabiter pacifiquement: ils sont presque toujours tous ensemble. Les chenils servent à séparer les chiennes quand elles ont les chaleurs, à assurer la quarantaine mais aussi à dormir la nuit, afin que certains chiens, les plus susceptibles de causer des problèmes, comprennent qu’il y a des limites à respecter. Pendant la journée, entre les repas, ils rejoignent le reste du groupe et s’intègrent harmonieusement. Il arrive qu’une petite escarmouche éclate, qui, en général, cesse sur mon ordre. Tous les incidents graves que j’ai connus, des bagarres d’une certaine violence, ont toujours impliqué des chiens qui étaient enfermés la majeure partie de la journée. Cet enfermement génère stress, irritabilité et intolérance envers les chiens en liberté, dont beaucoup prennent l’habitude de provoquer ceux qui sont enfermés. Dès qu'ils ont commencé à vivre ensemble, les bagarres sont devenues rares: les chiens, animaux potentiellement grégaires, s'habituent à vivre en meute, acquièrent une conscience collective et s'organisent au sein de celle-ci. Cette conscience les empêche d'attaquer les autres membres de la meute, même les mâles face aux femelles en chaleur. Il y a plusieurs années, lors d'une visite chez des bergers dont les troupeaux étaient gardés par des mâles et des femelles, j'ai trouvé étrange que, pendant les chaleurs des femelles, il n'y ait que de légères escarmouches entre eux, entraînant de légères blessures superficielles. Depuis, j'ai appliqué la même approche de gestion et le pire scénario reste des grognements occasionnels et sans conséquence. On pourrait arguer que cela ne fonctionne pas si les mâles sont tous très dominants, mais l'expérience m'a montré que la dominance n'est ni permanente ni absolue et qu'elle est largement conditionnée, voire exacerbée, par la façon dont nous la gérons. Les cris, le stress et les punitions physiques sévères ne sont pas des solutions et ne font qu'aggraver la situation, aggravant le stress et la frustration des chiens. Les chiens vivant dans un environnement équilibré et harmonieux sont beaucoup plus heureux et, par conséquent, beaucoup moins susceptibles d’attaquer les autres.
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