Quando um cachorro permanece comigo até aos quatro meses, sem que a intenção seja de ficar definitivamente, torna o processo de separação mais doloroso. No entanto, por vezes é necessário, como quando, por exemplo, os seus futuros humanos residem no estrangeiro e é preciso cumprir um protocolo de vacinação que obriga a essa espera. Nesse caso, antes da partida, o cachorro faz o despiste de lassidão articular das ancas e só seguirá viagem se elas forem satisfatórias (este procedimento é ainda mais importante se o cachorro se destinar a ser reprodutor).
Na semana passada, o doce Abafado, de 4 meses, efectuou esse despiste, de cujo resultado dependia a sua viagem para o colo dos seus futuros humanos, em Inglaterra. De acordo com as expectativas que eu tinha, e apesar de não ter recebido ainda o relatório, as ancas dele são promissoras, não havendo indícios de que tenderá a desenvolver displasia. Luz verde, por isso, para a viagem, que decorreu no passado fim-de-semana. Após a realização do exame, realizado na Universidade Lusófona pela Dra. Ana Santana, levei-o a passear no parque no Campo Grande, onde conviveu com outros patudos, recebeu muitas festinhas de todos os que se encantaram com ele e não se deixou intimidar pelos aviões e trânsito urbano nem pelas fortes tacadas do padel. Mostrou-se curioso, confiante, amigável, pronto para iniciar uma longa viagem de carro - para a qual, evidentemente, foi preparado, com recurso a tudo o que pudesse torná-la mais agradável e menos fatigante (treino, combinação de produtos naturais com efeito calmante, brinquedos olfactivos recheados de guloseimas). A viagem decorreu bem, ele mostrou-se autoconfiante em todas as ocasiões, e está agora a fazer as delícias da sua família humana, com a sua alegria, simpatia e meiguice.
Ser criador, para mim, é muito mais do que efectuar uma selecção e acasalamento criteriosos de reprodutores, com o objectivo de melhoramento no conjunto de todos os aspectos (morfologia e tipo, saúde, carácter, rusticidade, preservação de traços importantes e de diversidade genética). Passa também, forçosamente, por proporcionar aos cachorros bem-estar, carinho e alegria, socializá-los o melhor possível, procurar para eles humanos responsáveis e com condições adequadas para lhes oferecer a vida que eles merecem. Se às 16 semanas ainda estiverem na minha companhia, se se destinarem a criação ou se tiverem de esperar até essa altura para poderem viajar para o estrangeiro, não sairão de minha casa sem efectuar o despiste de lassidão articular das ancas. Porque é importante para a manutenção da sua saúde e qualidade de vida, porque é tranquilizador para os seus futuros donos e porque é fundamental para eu ampliar o meu conhecimento sobre a carga genética dos meus reprodutores e continuar a criar cães com ancas saudáveis.
Para mim, criar implica amor, responsabilidade, ética. Não apenas criar cães saudáveis e com excelente qualidade morfológica mas também proporcionar-lhes um princípio de vida feliz e harmonioso, ser rigoroso e selectivo na escolha dos futuros donos, procurar estabelecer com eles uma ligação de confiança e apoiá-los e aconselhá-lhos ao longo da vida do cão. Os cachorros nascem porque nós assim decidimos. Não são objectos descartáveis no momento da venda. Na minha perspectiva, o criador ético e responsável não corta os laços, procura estreitá-los e manter-se próximo e disponível sempre que seja preciso. Além de que essa proximidade permitir-lhe-á aprofundar o seu conhecimento sobre as suas linhagens, graças aos rastreios de doenças hereditárias que os seus clientes, donos dos cachorros, decerto aceitarão fazer. Não se deve ter medo dos resultados, serão eles que indicarão se o criador está no bom caminho ou se, pelo contrário, deverá proceder a alterações na sua estratégia e planos. Só dessa forma se consegue continuar a criar melhorando consistentemente a saúde das ancas, e não só, para o bem de todos.
Em tempos de crescente desconfiança e até perseguição a criadores por um considerável sector da sociedade civil, só a atitude ética poderá apaziguar e alterar a má imagem e sobretudo as nefastas consequências deixadas por todos aqueles que estão na canicultura e se servem dos cães meramente para seu benefício pessoal.
When a puppy stays with me for up to four months, without the intention of staying permanently, it makes the separation process more painful. However, sometimes it is necessary, such as when, for example, their future humans live abroad and the pup has to comply with a vaccination protocol that requires them to wait. In this case, before leaving, they're screened for joint laxity of the hips and will only proceede their journey if the outcome is satisfactory (this procedure is even more important if the puppy is supposed to be used at breeding one day).
Last week, sweet 4-month-old Abafado was screened and his journey to the lap of his future humans, in England, depended on the result. Although I have not yet received the report, his hips are promising, as expected, and there is no indication that he will tend to develop dysplasia. Green light, therefore, for the trip, which took place last weekend. After the exam, carried out at Universidade Lusófona by Dr. Ana Santana, I took him for a walk in the park in Campo Grande, where he mingled with other dogs, receivedmany cuddles from all those who were enchanted by him and was not intimidated by the planes and urban traffic or by the strong padel noises. He was curious, confident, friendly, ready to start a long car trip - for which, of course, he was prepared, using everything that could make it more pleasant and less tiring (training, combination of natural products with a calming effect, olfactory toys filled with treats). The journey went well, he was self-confident on all occasions, and he is now delighting his human family with his joy, friendliness and gentleness.
For me, being a breeder, is much more than carrying out a careful selection and mating, with the aim of improving all aspects (morphology and type, health, etc.). It also necessarily involves providing the puppies with well-being, affection and joy, socializing them as much and as adequately as possible, looking for responsible owners with adequate conditions to offer them the life they deserve. If at 16 weeks they're still in my hands, if they're destined for breeding or if they have to wait until then before they can travel abroad, they will not leave before having their hips tested for joint laxity. Because it's important for the maintenance of their health and quality of life, because it's reassuring for their future owners and because it is essential for me to expand my knowledge about the genetic load of my breeding stock and continue to breed dogs with healthy hips.
For me, breeding implies love, responsibility, ethics. It's not just about breeding healthy dogs with excellent morphological quality, but also providing them with a happy and harmonious life start, being selective when choosing their humans. Seeking to establish a bond of trust with them and support and advise them throughout the dog's life. Puppies are born because we made that decision. They are not disposable items at the time of sale. From my perspective, the ethical and responsible breeder does not cut ties, they seek to strengthen them and remain close and available whenever necessary. In addition, this proximity will allow them to deepen their knowledge of their dogs' lineages, by getting their puppy buyers to agree on having them tested. The breeder should fear the results, because these will indicate if they're on the right track or if, on the contrary, they should make changes in his strategy and plans. Only this way can they continue to consistently improve hip quality.
At a time when a considerable part of society distrusts and even persecutes breeders, only an ethical attitude can appease and alter the bad image and, above all, the disastrous consequences left by all those who use dogs and breeding merely for their own personal benefit.
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