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Que critérios ao planear uma ninhada? | Which criterea when planning a litter?

Foto do escritor: Manuela ParaísoManuela Paraíso

Cães da Serra da Estrela de pêlo comprido e curto
Jovem Campeã Thera da Ponta da Pinta e João Sem Medo da Ponta da Pinta

Quando se cria uma raça, há uma série de parâmetros que devem ser tidos em conta no planeamento de cada ninhada. No caso do robusto Cão da Serra da Estrela, há quem se preocupe, acima de tudo ou até unicamente, com o tipo (ou seja, a tipicidade, o conjunto de características que distinguem a raça de qualquer outra). Outros há que privilegiam a saúde, sem se preocuparem com a preservação do tipo. Muito poucos são os que falam da conservação do carácter correcto, o qual é fundamental na escolha pela maioria das pessoas que adquirem um Serra por quererem um guardião e companheiro equilibrado e de toda a confiança.


Desde há alguns anos, tenho lido ou ouvido críticas veladas ao meu trabalho de criação, as quais salientam "primeiro, o tipo", como se esse parâmetro não fosse uma das minhas preocupações. Na verdade, essas críticas costumam provir de criadores que têm muito pouca ou nenhuma preocupação pela saúde, que não efectuam despistes das doenças hereditárias mais comuns na raça ou que, se os fazem, não revelam os respectivos relatórios (talvez por não serem favoráveis?). A minha resposta, sempre que se fala sobre "o tipo acima de tudo", é que tudo é igualmente importante. Um cão muito típico com cardiomiopatia dilatada irá passar os seus genes letais a cerca de metade dos seus filhos; um cão com displasia da anca grave irá passar a toda a sua prole todos os muitos genes maus responsáveis pelo problema ortopédico, sendo que os seus filhos terão elevada probabilidade de vir também a ser altamente displásicos e aqueles que o não forem poderão passar esses genes nocivos aos seus filhos e às gerações subsequentes. Que valor reprodutivo terá, por isso, um campeão de beleza que origine vários descendentes que morrerão muito antes do tempo devido ou que terão de ser operados por mal conseguirem permanecer de pé? Por outro lado, qual o interesse reprodutivo de exemplares saudáveis mas atípicos, com várias características físicas que os distanciam da raça? E que mais-valia poderão constituir Serras com excelente carácter, protector e meigo, que não sejam saudáveis ou que não pareçam Cães da Serra da Estrela?


Não há respostas absolutas para estas perguntas. Não há cães perfeitos e muito menos portadores de uma constituição genética irrepreensível. Para alguns (muitos?), a qualidade do trabalho de um criador avalia-se pela quantidade de campeões que cria. Para mim, esse feito é apenas uma mais-valia, não uma meta a atingir a todo o custo. Enquanto criadora empenhada em fazer o melhor trabalho possível pelo Cão da Serra da Estrela, o meu objectivo não é obter títulos, troféus, protagonismo e vender muitos cachorros: é criar, em cada ninhada, cães típicos, saudáveis, robustos, com carácter fiável, que possam dar à raça valor acrescentado; é não esquecer a sua essência de cão de trabalho; é ajudar a ampliar o seu fundo genético, o qual, na variedade de pêlo comprido, tende a um certo estrangulamento; é colocar os cachorros que se cria com amor nas mãos de quem os faça felizes e os torne orgulhosos representantes da raça; é, com os melhores deles, dar um contributo para que também outros criadores responsáveis, hoje e amanhã, possam usufruir desses recursos genéticos, usando-os nos seus próprios programas de criação.


Com este tipo de abordagem, não é raro que os resultados pretendidos não se obtenham na primeira geração; em cada uma delas, há aspectos a ser melhorados; ocasionalmente, um ou outro pequeno retrocesso; mas, no cômputo geral, há uma progressão contínua no contributo para ajudar a raça a conservar ou ampliar a sua diversidade genética na variedade de pêlo comprido, sem abdicar da tipicidade nem da saúde nem do carácter, e a contribuir para preservar, melhorar e valorizar a variedade de pêlo curto e expandir o apreço por ela não só em Portugal mas a nível mundial.


Tendo criado vários campeões, jovens campeões e uma Grande Campeã nacionais, campeões internacionais e de outros países e Campeões Mundiais (não é exactamente coisa pouca!), tendo a grande maioria dos meus exemplares e dos cães que crio bons resultados nos rastreios de doenças genéticas, além de carácter equilibrado, sendo quase todos os meus cães que procriam Reprodutores Valorizados pelo Clube Português de Canicultura (o que significa que têm perfil de ADN e obtiveram resultados satisfatórios em despistes de doenças hereditárias mas também a classificação "excelente" em exposições caninas), só pessoas muito "distraídas" podem achar que não dou importância ao tipo.


Criar bem, com ética, com responsabilidade, com competência, é pensar em tudo, no cão completo, é tudo fazer para gerar inequivocamente típicos Cães da Serra da Estrela, saudáveis, longevos, amigos leais e excelsos guardiões.


Cães da Serra da Estrela de pêlo comprido e curto | Long and short-haired Estela Mountain Dogs
Arco e Campeã Nacional Sortelha da Ponta da Pinta

When breeding a breed, there is a series of parameters that must be taken into account for planning each litter. In the case of the robust Estrela Mountain Dog, some breeders are concerned, above all or even only, with type (that is, the typicality, the set of characteristics that distinguish the breed from any other). There are others who prioritize health, without worrying about preserving type. Very few people talk about maintaining the correct temperament, which is fundamental in the choice made by most people who purchase an Estrela because they want a balanced and trustworthy guardian and companion.


For some years now, I have been reading or hearing veiled criticisms on my breeding work, which emphasize "type first", as if that parameter were not one of my concerns. In fact, this criticism usually comes from breeders who have very little or no concern for health, who do not screen for the most common hereditary diseases in the breed or, if they do, they won't reveal those reports (perhaps because they're not good?). My answer whenever people talk about "type above all" is that everything is equally important. A very typical dog with dilated cardiomyopathy will pass on their lethal genes to about half of their progeny; a champion with severe hip dysplasia will transmit to all its offspring all the many bad genes responsible for the orthopedic problem, and its descendents will have a high probability of also being highly dysplastic and those that are not may pass those detrimental genes on to their progeny and subsequent generations. What reproductive value will, therefore, have a dysplastic conformation champion who produces several descendants who will have to undergo surgery because they can barely stand up? On the other hand, what is the reproductive interest of healthy but atypical specimens, with several physical characteristics that distance them from the breed? And what added value could possibly have Estrelas with excellent, protective and gentle temperament but with poor health or type?


There are no absolute answers to these questions. There are no perfect dogs, let alone those with an impeccable genetic constitution. For some (many?), the quality of a breeder's work is measured by the quantity of champions he/she breeds. For me, that accomplishment is just an added value, not a goal to achieve at all cost. As a breeder committed to doing the best possible work for the Estrela, my purpose is not winning titles, trophies, protagonism and selling many puppies: it is, in each and every litter, breeding typical, healthy, robust dogs, with a reliable temperament, who will be a good input to the breed, in health as in genetic diversity; it is to preserve its essence as a working dog; it is to help widen its gene pool, which, in the long-hair variety, is drifting to a genetic bottleneck; it is to place the puppies one breeds with love in the hands of those who will make them happy; it is providing other responsible breeders with high quality ones, so that, today and tomorrow, they too can use those genetic resources in their own breeding programs.


With this type of approach, it is not uncommon for the desired results not to be obtained in the first generation; in each of them, there are aspects to be improved; occasionally, one or two small setbacks; but, overall, there is a continuous progression in the contribution to the breed's conservation or in widening its genetic diversity in the long-haired variety, without giving up typicality, health or temperament, and contributing to preserve, improve and value

the short-hair variety and expanding the appreciation for it, not only in Portugal but worldwide. Having bred several junior, senior national champions and one Grand champion, international ones and of other countries as well as World Winners (not exactly a minor thing, is it?), having the vast majority of my dogs and the dogs I breed good results in health screenings, as well as a balanced temperament, with almost all of my breeding stock being rated as Valued Breeding Dogs by the Portuguese Kennel Club (which means they have a DNA profile and have obtained satisfactory results in health testing as well as an "excellent" classification in dog shows), only very "absent minded" people can think that I don't care about type.


Breeding well, ethically, responsibly, competently, is taking everything into account, the complete dog, it's doing whatever needed to breed unequivocal, typical Estrela Mountain Dogs who turn out healthy, long-lived, loyal friends and excellent guardians.

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