O acasalamento entre as duas variedades do Cão da Serra da Estrela é uma prática a que temos vindo a recorrer, com autorização do Clube Português de Canicultura, e que nos permite concretizar objectivos específicos: melhorar ambas as variedades; ampliar a diversidade genética de cada uma; criar novas linhagens de reprodutores de pêlo comprido nas quais não tenha sido detectada a existência de cardiomiopatia dilatada (doença letal existente na generalidade das raças grandes - entre as quais o Serra da Estrela, especialmente nas linhagens da canicultura da variedade de pêlo comprido).
Esta prática de acasalamento intervariedades continua a ser, no entanto, encarada com desconfiança por alguns criadores, que a consideram prejudicial por, dizem, levar ao surgimento de exemplares de “meio pêlo”. Se esses criadores se dessem ao trabalho de tentar adquirir noções básicas de genética e procurassem informação disponível, compreenderiam que a sua alegação não faz nenhum sentido – e há muito que a ciência assim o provou. Explico porquê.
O tipo de pêlo do Cão da Serra da Estrela é determinado por um gene, de que existem duas versões (alelos): uma delas codifica para o pêlo curto e é dominante, o que significa que um cão que a possua será da variedade de pêlo curto; a outra, que codifica para o pêlo comprido, é recessiva, pelo que um cão terá de possuir dois desses alelos, cada um herdado de um progenitor, para ser de pêlo comprido. Não há nenhum gene nem alelo que determine o "meio pêlo”. Isto significa que se um cão herdar um alelo do pêlo curto, ele será forçosamente dessa variedade, mesmo que receba um alelo do pêlo comprido do outro progenitor. Há ainda outros genes, não identificados e designados “modificadores”, que afectam o comprimento do pêlo, independentemente da variedade. É por isso que existem variações no comprimento do pêlo, tanto na pelagem comprida como na curta. E é por isso que, ocasionalmente, dois Serras de pêlo comprido, cujos progenitores e anteriores antepassados são/eram dessa variedade, podem gerar alguma prole que parece ser de pêlo curto, embora geneticamente não o seja, por só possuir alelos do pêlo comprido. Por vezes, a única forma de saber se um Serra é de pêlo curto ou comprido é pela realização de um teste de ADN (há disponíveis testes que estabelecem qual a variedade do pêlo).
Breeding the two varieties of the Estrela Mountain Dog together is a practice we occasionally use, under the Portuguese Kennel Club’s permit, and it allows us to reach specific goals: bettering both varieties; widening the gene pool of each of them; creating new lineages of breeding dogs of the long-coat variety, in which there’s no known family history of dilated cardiomyopthy (a lethal disease common in most large and giant breeds – among which the Estrela, especially in the breeders’ lineages of the long-coat).
However, this inter-variety mating practise is still frowned upon by some breeders, who considered it to be detrimental, allegedly for originating “midcoat” dogs. If those breeders took the trouble to try and acquire basic notions of genetics and look for available information, they would understand their claim is senseless – as proved long ago by science. I explain why.
The Estrela's type of coat is determined by one gene, which has two versions (alleles): one that codifies for the short-coat (it is dominant, meaning that any dog that has it will be short-coated) and another one, that codifies for the long-coat (it is recessive, which means that a dog needs to have 2 of those alleles, one inherited from each parent, to be long-haired). There's no gene, not even an allele, for the so-called "midcoat". That means if a dog inherits one allele of the short-coat , they'll necessarily be short-coated, even if they get the long-coat allele from the other parent. Then there are other genes, unidentified and called modifiers, which affect coat length, regardless of the variety. That's why there are variations in the coat length in the breed. And that's why, occasionally, 2 long-coat Estrelas, whose parents and previous ancestors are all long-coated, can produce some offspring that appear to be short-coated, even though genetically they're not because they only have the long-coat alleles. Sometimes, the only way to determine whether an Estrela is long or short haired is by testing their DNA (there are available tests that establish which variety they are).
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